O município do Crato vai completar, no dia 21 de junho de 2019, 255 anos de existência? Fake News!

É isso mesmo! Convencionou-se, não sei quem nem quando, que o município do Crato, ao sul do Estado do Ceará, teria sido instalado no dia 21 de junho de 1764. Sabe-se que, a partir de 22 de julho de 1658, a família d’Ávila, dona da Casa da Torre, na Bahia, já havia peticionado em sesmaria todo o entorno da Chapada do Araripe. Porém, os índios não deixaram tal grupo tomar posse. Já em 1703, Manoel Rodrigues Ariosa havia se arranchado no lugar correspondente ao Crato, com o objetivo de criar gado. Este é o momento do “povoamento regular”, assim denominado pelo Padre Gomes.

Contudo, é a partir de 1738 para 1739 que o frei Carlos Maria de Ferrara, italiano da ordem dos capuchinhos, estabelece uma Missão indígena no atual Bairro do Mirandão e, depois, vai se acomodar com os índios Kariú onde hoje existe a Praça da Sé. Mas foi apenas no ano de 1743 que Frei Carlos recebeu uma légua quadrada de terra em doação (das fraldas da Chapada do Araripe até o atual distrito da Ponta da Serra), impondo-se cláusula de que, caso os índios abandonassem a Missão, as terras voltariam ao domínio do doador ou de seus herdeiros.

Ocorre que no ano de 1764 foi inaugurada a Vila Real do Crato, para onde também foram levados os índios Jucá, oriundos da Missão do Jucá (hoje, Arneiroz/CE). Todavia, no ano de 1779 todos os índios que se encontravam no aldeamento foram transferidos para o litoral cearense e a légua quadrada de terra que ocupavam passou para a Vila do Crato, a qual as deu em aforamento (enfiteuse) e também as vendeu. No entanto, o que nos interessa nesse instante é apresentar um documento encontrado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, uma transcrição do antigo livro da Câmara da Vila do Crato, no qual a data apresentada para a criação da dita Vila é, na verdade, 14 de junho de 1764. Vale a pena a discussão! Inclusive já publiquei em meu livro a análise histórico-jurídica sobre este fato. Eis aí o documento!

Por Heitor Feitosa Macedo.

Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.