Construído em meados de 1907, o casarão dos Viana Arrais foi inaugurado no dia 07 de setembro de 1907, e tinha como cores as da bandeira do Brasil. Durante décadas foi o lar de umas das mais ilustres e respeitadas famílias de Brejo Santo, os Viana Arrais, que chegaram na localidade em agosto de 1898, e construíram um dos mais importantes legados daquela cidade.

Balbina Lídia Vianna Arrais e João Casemiro Vianna Arrais eram irmãos. Ela foi a primeira professora do magistério público da cidade, e ele, um dos padres responsáveis por incentivar o desenvolvimento do local, promovendo obras e melhoramentos. Dona Balbina nasceu em 05 de dezembro de 1862, no Sítio Emas, em Lavras da Mangabeira, e prestou exame para a cadeira de magistério em 1884, no Liceu do Ceará, sendo nomeada em 16 de janeiro de 1885.

Dona Balbina, a mestra

Inicialmente trabalhou em São Pedro do Crato (atual Caririaçu), transferindo-se para diversas cidades, sendo Várzea Alegre sua última estada antes de se mudar para Brejo Santo, de onde não mais saiu. Acompanhada do esposo, o farmacêutico Lídio Dias Pedroso, da filha, Balbina Pedrosa Viana Arrais, do pai e de uma irmã, Altina Viana Arrais, Dona Balbina estabeleceu-se inicialmente na Rua da Taboqueira, atual Av. Cel. Basílio, onde residiu em imóveis pertencentes ao Cel. Basílio Gomes da Silva, a partir de agosto de 1898.

Em 29 de março de 1903, João Casemiro Vianna Arrais, assume a paróquia de Brejo Santo, galgando importantes posições no conceito da população. O Padre Viana nasceu em 07 de setembro de 1876, em Lavras da Mangabeira, e iniciou sua formação sacerdotal no Seminário da Prainha, em 1893, tendo a concluído no Seminário Arquiepiscopal da Bahia em 1897.  Ao vender propriedades da família em outros munícipios, especialmente Lavras da Mangabeira, o Padre Viana decidiu edificar uma imponente construção no quadro da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus.

Padre Vianna

Edificado sob a supervisão dos Gomes de Sá, habilidosos mestres de obra do lugar, a construção contava com 5 portas na frente e 7 nas laterais, todas em perfeita fenestração, e dando provas de que o projeto contemplava a popularidade da família e suas ações – geralmente empregadas em casas comerciais, as portas em abundância permitiam maior circulação de pessoas, e também melhor conforto no interior do imóvel – que naqueles idos, já era deveras querida e respeitada em Brejo Santo, reconhecidos como mestres do ensino, principalmente aos mais pobres, havendo eles formado até turmas noturnas, onde os adultos poderiam frequentar gratuitamente, algo grandioso hoje em dia, e imensurável naquele período, onde os índices de analfabetismo eram elevadíssimos, e o acesso ao ensino extremamente restrito.

Detalhes da platibanda

Ademais, o casarão, além de abrigar a escola de D. Balbina e D. Altina, era sede também das atividades religiosas da paróquia, como as conferências vicentinas e do Sagrado Coração de Jesus, tudo isso aliado as atividades farmacêuticas, uma herança deixada pelo esposo de D. Balbina, que foi o primeiro boticário de Brejo Santo, falecido em 1899. A fachada era garbosa, dona de uma platibanda encantadora, com cornijas, balaústres e floreios infindáveis.

As grossas paredes vivenciaram a formação das bases educacionais da localidade, e os exemplos de caridade e desapego das matriarcas da família. O grande quintal, cheio de fruteiras e flores, era o local de descanso dos que ali se dirigiam em busca de aprendizado. Cheiros, toques e visões que marcaram gerações inteiras durante os 87 anos em que ele esteve de pé. Demolido em abril de 1994, o Casarão dos Vianna Arrais é para muitos dos habitantes de Brejo Santo, como um amigo que partiu repentinamente, sem direito a câmara ardente, muito menos a despedidas. Foi abaixo num sopro, num dia só, vitima de sincope imobiliária fulminante, e em seu atestado de óbito, vieram gravadas as impressões digitais dos muitos que puderam, mas nada fizeram em prol do estabelecimento de políticas públicas preservação patrimonial seguras, abrangentes e inclusivas, assim como também os lamentos dos que tentaram, mas fracassaram na missão de preservar o templo máximo do saber naquele torrão.

Detalhes dos arcos

O Padre Viana faleceu em abril de 1911 e Dona Balbina em 28 de fevereiro de 1951, após eles, outros Vianna Arrais deram continuidade ao legado educacional da família, e mesmo não havendo salvação para o casarão, haverá sempre reminiscências, em cada canto do Brejo, daqueles que fundaram ali as matrizes da maior fonte de emancipação que um ser pode experimentar: a educação.

Agradecimentos especiais a Bruno Yacub, pesquisador dedicado da história de Brejo Santo, que sempre nós dá apontamentos importantes sobre o lugar, a destacar o artigo de hoje.

Saudações a D. Ariluce Arraes Bezerra e João Viana Arraes Neto, descendentes de D. Balbina e guardiões da memória da família, incluindo o acervo fotográfico aqui inserido.

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.