Hoje a Praça Padre Cícero é um dos pontos mais importantes de Juazeiro do Norte, mas no Séc. XIX e início do Séc.XX, quando ainda era apenas um recorte de terra sem infraestrutura, com várias árvores e até um poço de argila, o local era um dos pontos de encontro dos ébrios do vilarejo.

No local onde hoje está a estátua em bronze do Padre Cícero, existia um frondoso cajueiro, onde havia ajuntamentos para sambas e rodas de viola, sempre regadas a muita cachaça “Sete Braças”, daquelas que se toma um gole aqui, e se cai sete braças depois.

O Padre Cícero, que ainda era jovem e muito disposto, acostumado a percorrer longas distâncias a pé e a agir energicamente contra essas festas, que ele condenava veementemente, era a figura responsável por desmanchar as rodas de samba. Munido com seu cajado, que se fazia pesar na cabeça e no espinhaço de quem fosse teimoso ou lento, “Seu Padre”, como era chamado, botava os beberrões pra correr somente ao ser avistado na esquina.

Certo dia, avisaram ao padre que no cajueiro já estava reunida uma grande quantidade de pessoas, bebendo e dançando. O sacerdote marchou até o local de cara dura, passo firme e cajado na mão. Os envolvidos, ao o avistarem, tombaram bancos e jogaram violas e rabecas, e na carreira, alguns perderam até mesmo as alpercatas.

Uma das sambistas, estava tão bêbada e envolvida, que continuou dançando e cantando:

Quando eu quero, eu quero é logo. Quando eu quero, eu quero é já (…).

O Padre Cícero, já bem próximo da mulher, falou em voz alta e em tom severo:

– E o que é que a senhora quer? Ande, me diga. 

Assustada e com medo da pancada no espinhaço, a mulher largou mão do copo de cachaça e se prostou de joelhos, afirmando:

– E eu quero é o perdão de meus pecados, e a sua benção, seu padre.

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.