Muito antes dos caminhões e carretas, a solução para o transporte de cargas muito pesadas ou indivisíveis, eram as juntas de carro de boi. Escolhido a dedo, e adestrado, o boi de carro tinha uma complexidade muscular que assustava quando exposta. Feitos em madeira, os carros de boi praticamente desapareceram de nossa realidade, sendo mais comuns as carroças de burros, que por utilizarem elementos da indústria automotiva, não possuem o barulho característico do carro de boi.

Pois bem, adentando a narrativa sobre a assombração da Lagoa Encantada, reza a lenda que no final do Séc. XVIII, um carreiro ia conduzindo o carro de boi, que gemendo pela estrada, com seu som característico, anunciava sua passagem. Distraído, o homem cantarolava, apreciando o crepúsculo da “boca da noite”, confiando na junta de bois que tracionava a carga.

Nesse interim, os bois conduziram o carro para um dos brejões existentes na localidade, onde havia um sumidouro. Apesar dos esforços do carreiro, não havia mais salvação, nem para ele, e nem para a junta de animais. Foram todos engolidos lentamente pela terra, e se encantaram. Após a constatação do sumiço, a confirmação do triste fim só veio após o início das manifestações.

Contam as histórias, que vez ou outra, as noites e madrugadas eram cortadas pelo gemido do carro do boi, e pelas cantigas e aboios do carreiro, que preso no brejão, não deixou de seguir sua missão, criando o hábito dos mais antigos evitarem circular por aquela região em determinados horários, e nomeando aquele agregado de brejos e pequenos lagos, de Lagoa Encantada, nome esse que batizou um dos mais poderosos engenhos da região.

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.