No cruzamento das Ruas: São José e Conceição, no centro de Juazeiro do Norte, repousa um dos mais imponentes e curiosos imóveis desta urbe, é a Vila Luzitana, construída entre 1937 e 1938, a mando de Ângelo de Almeida, português nascido em Aveiro, e que chegou ao Brasil na década de 1920, tendo ido residir com Manoel Simões Loiro, seu tio, em Crato, cidade que o também português havia chegado em 1916.

Situada na Rua Senador Pompeu, no Centro do Crato, a empresa de importação de gêneros alimentícios de seu tio prosperava, e de lá saíram importantes nomes do ramo no Ceará, pois lá Manoel Loiro processava macarrão e outros alimentos, assim como também possuía conceituada padaria.

Em lombo de burro, Ângelo de Almeida representava os produtos do seu tio pelas cidades do Cariri, sendo que por Juazeiro, o português desenvolveu especial apreço e expectativa de crescimento econômico, uma vez que a cidade crescia exponencialmente e não faltavam incentivos para a vinda de novos comerciantes, assim, em 1931 ele adquiriu a modesta padaria de Manuel Trajano, e mudou-se com a família, que aquela época já era composta por sua esposa, Maria Ferreira de Almeida e suas duas filhas, Ismênia Ferreira de Almeida e Lídia.

A Padaria Luzitana, como rebatizou o negócio que adquiriu em Juazeiro, rapidamente montou clientela e virou ponto de referência com sua extensa linha de produtos regionais, como Biscoitos São Tomé, Bolachas Bola de Ouro e Lídia, Café Luzitano, Macarrão, e etc. Sendo assim, após residir em dois outros imóveis, Ângelo projeta junto com sua esposa o imóvel de estilo eclético que vemos na foto, mesclando elementos Art Déco e de Bangalôs, algo ousado para a pacata Juazeiro do Norte dos anos 1930. Anexo ao imóvel, extensos jardins e um quinta cheio de variedades, como cita Renato Casimiro:

“ Quintal onde se cultivava figo e uva — coisas exóticas para uma cidade como aquela. Mas, também, romã, sapoti e siriguela. E junto a isto havia um viveiro para avoantes, um enorme galinheiro com poedeiras, um tanque para lavar garrafas que eram usadas na reembalagem do bom vinho português, importado em tonéis de madeira”.

E reforça:

“ Sem falar da estufa, instalação para defumar lingüiças, especialidade da senhora dona da casa”.

Como toda de casa de família tradicional portuguesa, na Vila Luzitana não faltam azulejos, alguns com interessantes dizeres, como: “Que Deus te dê em dobro o que me desejas”, “Quem vem que Deus o traga, quem parte que vá com Deus”, e etc.

Ângelo investiu também no ramo imobiliário e na agropecuária, tendo notável exito também nestas áreas, faleceu em Fortaleza, no dia 16 de Dezembro de 1978, tendo sido enterrado no jazigo da família no Cemitério do Socorro. O que sabemos sobre os usos do imóvel após a falecimento do casal é superficial e incerto, porém, é de se imaginar que tenha passado bons tempos fechado, uma vez que suas filhas haviam casado e constituído família, tendo sido Lídia primeira dama do Estado do Ceará, esposa de Adauto Bezerra.

A Vila Luzitana nos dias de hoje

O imóvel foi visitado novamente por nós em Maio de 2018. Seu estado de conservação é relativamente bom, não se observa danos estruturais, muito embora os muitos usos nos últimos anos, principalmente como bares e local de eventos, tenha descaracterizado bastante a construção, encontra-se atualmente fechado e exposto para aluguel.

O texto conta com informações de artigo publicado por Renato Casimiro em 05 de Fevereiro de 2017.

 

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Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.