“Que espetáculo horroroso, esse de milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando, arrepelando-se… Foi então que se soube… O Padre Cícero falecera… Eu, sem ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda aquela gente”.
– Lourival Marques
Apesar da longevidade, os últimos anos do Padre Cícero não foram os de um homem em pleno vigor. Nascido em 24 de março de 1844, Cícero Romão Batista padecia dos males que a velhice causa a todos, e o religioso já não era mais um homem tão ativo socialmente. Praticamente cego, por conta de uma catarata avançada que atingia os dois olhos, e cheio de dores, Cícero tinha sua rotina regrada pela Beata Mocinha, e o acompanhamento do Dr. Manuel Belém de Figueiredo era constante, pois seu ilustre paciente padecia de dores abdominais constantes e mau funcionamento dos rins.
No dia 18 de julho de 1934, a agonia do Padre Cícero se tornou maior. Dores horríveis cortavam seu ventre, e há dias ele não defecava, nem se alimentava, um quadro preocupante que forçou o ingresso de novos médicos no caso, tendo sido o Dr. Mozart Cardoso de Alencar, o primeiro a chegar em seu auxílio, na noite daquele fatídico dia. Além do Dr. Belém e do Dr. Mozart, vieram ao encontro do religioso os médicos, Dr. Pio Sampaio, de Barbalha, e Dr. Elysio de Figueiredo, do Crato, porém, nenhum conseguia solução para a paralisia intestinal que acometia o levita.
Banhado em suor, o Padre Cícero amargava horas infindáveis de dores que o faziam gemer e implorar, até desfalecer. Amália Xavier descreveu que as medicações eram medidas pontuais, e que reduziam o sofrimento de Cícero por apenas algumas horas, sofrimento esse que levou boa parte da população da cidade a se revezar entre orações e vigílias em frente ao casarão da Rua São José.
Por volta das cinco horas da manhã, do dia 20 de julho de 1934, teve início a agonia final do Padre Cícero, um momento que levou até os médicos aos prantos. Em suas últimas forças, o religioso pediu a presença do Padre Juvenal, que lhe assegurou a absolvição, e a pedido do mesmo e do Dr. Elysio, o Padre Cícero fez cruzes no ar, abençoando aos amigos e admiradores que o assistiam em seus últimos momentos.
Recebeu também uma vela e um crucifixo, este último ele teria abraçado ternamente, chamando em seguida pela Beata Mocinha, que ele tratava por Joana (o verdadeiro nome da Beata Mocinha era Joana Tertulina de Jesus). No leito de morte do Padre Cícero, a beata pediu a benção, e ouviu como resposta: “No céu pedirei por todos vocês”.
Falava baixinho, quase só para si: “Meu pai, meu pai”, e assim foi diminuindo sua respiração, e entre as orações e súplicas dos presentes, deixou cair as últimas lágrimas de uma vida longa, e por vezes tormentosa, lágrimas essas que foram aparadas por um lenço de Generosa Alencar, e que hoje se encontra no acervo do Memorial Padre Cícero. Eram cerca de seis horas da manhã, quando correu a cortante notícia de que não havia mais solução, havia chegado ao fim a trajetória do patriarca de Juazeiro.
A cidade inteira caiu em prantos, e diante da demanda enorme de afilhados, romeiros, amigos e admiradores, fez-se necessário colocar o corpo do Padre Cícero em uma das janelas do casarão, exposto para a rua, para que todos pudessem ter uma última lembrança do religioso. No final da tarde, dois aviões do exército cruzaram os ares de Juazeiro, executando manobras no céu e derramando flores sobre o centro da cidade, aterraram em seguida, e seus pilotos, dentre eles, José Sampaio de Macedo, afamado aviador cratense, seguiram para o casarão onde estava sendo velado o corpo.
Na manhã seguinte, um batalhão de padres se revezou na missa de corpo presente, executada em campo aberto na igreja matriz da cidade. Segundo Dr. Diniz, o cortejo levou mais de uma hora para percorrer a distância compreendida entre a casa do Padre Cícero e o templo, tendo o centro de Juazeiro se tornado minúsculo diante da multidão. O pequenino corpo de Cícero foi levado sobre os braços dos muitos que o queriam conduzir e tocar. É importante citar, que, segundo Daniel Walker, foram necessários dois caixões, pois, diante do rápido inchaço que afetou o corpo, o primeiro havia se tornado pequeno. Por volta das 10:30 da manhã, após um longo cortejo, o corpo desceu a sepultura, no altar principal da capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; registrou-se nos dias seguintes fortes ventanias, e o aparecimento de bandos de andorinhas, algo incomum para a época, assim como também o sumiço dos tecidos e tinturas pretas das lojas da região, sinal de um luto que perdura até os dias atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- XAVIER, Amália. O Padre Cícero que eu conheci. Fortaleza: Premius, 2001
- MENEZES BARBOSA, Geraldo. História do Padre Cícero ao alcance de todos. 2° Edição. ed. Juazeiro do Norte: ICVC, 1994.
- NETO, Lira. Padre Cicero: Poder, Fé e Guerra no Sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
- MENEZES, Fátima; FERREIRA ALENCAR, Generosa. Homens e fatos da história do Juazeiro. Recife: Editora universitária UFPE, 1989.
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