Desde o Séc. XVIII, a região do Cariri teve como uma das principais atividades agrícolas e mercantis, o plantio e o comércio de derivados da cana de açúcar, dado o contexto climático favorável a essa cultura.
A partir do Séc. XIX, ergueram-se na região engenhos gigantescos, com uma capacidade produtiva invejável, adotando as máquinas a vapor como força motriz do processamento da cana, dentre eles, o Lagoa Encantada, localizado em um brejão afamado por um causo de assombração, que pode ser lido clicando aqui.
O Lagoa Encantada foi um dos pioneiros na aplicação de máquinas e implementos agrícolas, e no uso de insumos responsáveis por enriquecer a terra e aumentar a produtividade, uma via oposta a grande maioria dos senhores de engenho do Cariri, conservadores nas práticas agrícolas, e com pouca capacidade de investimento.
Quem passa na estrada da Vila São Bento, de longe consegue avistar sua enorme chaminé. Aos olhos forasteiros, o Lagoa Encantada pode ser confundido com uma indústria abandonada, dada sua arquitetura e estrutura, que mesmo aos frangalhos, ainda impressiona.
Adentrando os limites da propriedade, é possível verificar a existência de casas de taipa e antigos alojamentos de funcionários, alguns ainda em uso. A casa grande, infelizmente, foi demolida já há alguns anos, mas abaixo deixo uma foto feita na década de 1950.
Atualmente dedicado a pecuária, incluindo o manejo de búfalos, o vasto terreno ainda respira ares canavieiros, o visitando consegue com facilidade imaginar aquela vastidão repleta de cana, sendo ceifada e transportada pelos cambiteiros, com suas cantigas, que se complementavam com os homens das fornalhas, tachos e outras estruturas do processo produtivo.
A arquitetura industrial presente no engenho, deve-se ao seu processo de modernização, entretanto, sua caixa de água possui aspecto divergente do restante do conjunto, indício de como era a estrutura inicial.
Com a produção em escala industrial, o Lagoa Encantada empregou dezenas de pessoas, e coleciona histórias em suas paredes, nem sempre boas. Há um relato importante, que indica o contexto das relações de trabalho, e da segurança laboral, que narra a morte de um dos responsáveis por alimentar com cana o enorme maquinário.
Em seu incessante ritmo de trabalho, logo nas primeiras horas da madrugada, o homem teria “dado um cochilo” no tempo de alimentação da máquina, que tem de ser bastante preciso. A consequência foi sua moagem junto a cana, e os trabalhos foram encerrados diante do horrendo ocorrido.
O Lagoa Encantada ainda não teve a mesma sorte do Tupinambá, em Barbalha, que apesar de ter estado em ruínas, foi reformado por iniciativa privada, e hoje é utilizado com outros fins. Numa região onde damos sorte quando encontramos os torrões dos antigos engenhos que moeram o néctar da economia caririense durante séculos, o quadro do Lagoa Encantada não é incomum, mas seguimos esperançosos.
CONFIRA ABAIXO AS FOTOS E O VÍDEO DE NOSSA VISITA AO ENGENHO: