Apresentação

A leitura do trabalho de Antonia Márcia Nogueira Pedroza me encheu de alegria e surpresa. Alegria por estar diante de uma dissertação de mestrado bem escrita e bem fundamentada como poucas são hoje em dia.

E surpresa porque percebi estar diante de uma história impressionante de escravização ilegal e de luta na justiça pela liberdade. Quer dizer, o impressionante não é a escravização ilegal em si: casos como o da mulata Hypolita, personagem principal desta história, aconteciam a torto e a direito em todo o Império do Brasil.

Principalmente depois da proibição do tráfico de africanos escravizados, em 1831, qualquer um que pudesse passar por escravo – qualquer descendente de africanos, não importando há quantas gerações fosse livre – estava em perigo. Com Hypolita não foi diferente: nascida livre, viveu seus primeiros anos de vida com os pais libertos. Quando sua madrinha se mudou para Exu, em Pernambuco, sua mãe pensou que seria uma boa oportunidade para dar a Hypolita uma vida melhor que a sua. Que nada. Hypolita saiu da casa dos pais para acabar, anos depois, escravizada pelo marido da filha de sua madrinha.  E, mais tarde, enfrentou seu escravizador na justiça para tentar reconquistar sua liberdade. Mas o incrível neste caso é a forma como Antonia Pedroza a pesquisou e a narrou. Sua pesquisa minuciosa permitiu que ela reconstituísse e analisasse com detalhes a trajetória de Hypolita. Mais ainda, seu faro de investigadora a levou a Exu, onde não só encontrou mais fontes sobre o assunto, como descobriu que a população da cidade conhecia sua história. Hypolita faz parte da história de Exu. Está presente na memória de seus habitantes. E, se ainda fosse possível duvidar, seus descendentes continuam lá, prova viva da complexidade e da tragédia da escravidão brasileira.

Keila Grinberg – Departamento de História Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

DOWNLOAD: DESVENTURAS DE HYPOLITA

 

 

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Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.