Hidrelétrica do Crato na década de 1980 - Acervo do IBGE.

Inaugurada em 04 de Dezembro de 1938, a Hidrelétrica do Crato hoje passa despercebida para a maioria dos frequentadores do Balneário da Nascente, em Crato, que não imaginam a importância histórica daquelas ruínas, e suas influências na vida privada e econômica da cidade quando de sua inauguração.

Huberto Cabral relembra que na década de 1910, o processo de iluminação pública ocorria por meio de lampiões, e no seu livro “Crato – Evolução Urbana e Arquitetura, 1740-1960”, Waldemar Arraes nos informa que em março de 1920 foi inaugurada na cidade a usina geradora de eletricidade “A. Costa & Meyer LTDA”, que teve suas obras iniciada em agosto de 1919, e teria sua matriz geradora impulsionada por uma caldeira. Com a força do vapor o Crato viu suas ruas e praças iluminados das 18:00 as 00:00, as obras foram conduzidas por Audálio Costa e Picanço, e teve como principal entrave a dificuldade logística, uma vez que a estrada de ferro ainda não havia chegado ao Crato, e o transporte do enorme maquinário ocorreu do ponto final da Estrada de Ferro de Baturité, que à época viria até Aurora e Ingazeira, até a urbe, por meio de juntas de boi.

A década de 1920 foi marcada por importantes construções e evoluções nas comunicações e transportes do município, e a de 1930 entrou mostrando ao Crato que suas matrizes de energia precisavam evoluir, e escutando esse anseios, o prefeito Filemon Fernandes Teles(1884-1977) deu inicio ao processo de empréstimo de mil contos de réis junto a Caixa Econômica Federal, que teria entre as diversas finalidades, a construção de uma Usina Hidrelétrica, que utilizando a força hidráulica das águas do Rio Batateiras, impulsionaria a cidade, a atenderia aos anseios gerais da população, principalmente do empresariado que desejava expandir suas fábricas e necessitava de mais força elétrica.

Tendo sido seu primeiro governo muito curto, como sucessor de Antonio Pinheiro Gonçalves, ocupou o cargo de 26 de maio de 1936, a 27 de dezembro de 1937, quando passou o bastão para Alexandre Arraes, que fez memorável gestão, e utilizando dos recursos inicialmente solicitados por Teles, deu continuidade as obras planejadas pelo antecessor, dentre elas a hidrelétrica.

A usina seria montada num prédio planejado especificamente para tais fins, com galerias subterrâneas, um projeto na verdade muito bem feito e executado, mas que devido a capacidade geradora da turbina hidráulica Stoltz, de certa forma já “nasceu obsoleta”, e uma prova disso é que até a chegada da energia de Paulo Afonso e a criação da CELCA, a cidade teve de recorrer a dois conjuntos termoelétricos e uma reforma e modernização da própria usina entre 1955 e 1956, onde foi construído um tanque de retenção para aumentar a vazão, houve o acréscimo de uma turbina, mudança no quadro de distribuição e outras providencias, como vemos nesse trecho da lei n°3.080 de 22 de Dezembro 1956: “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É concedida isenção de direitos de importação, impôsto de consumo e taxas aduaneiras, exclusive a de previdência social, aos materiais a serem importados da Alemanha pela Prefeitura Municipal de Crato, no Estado do Ceará, para a reforma e ampliação de sua usina hidrelétrica, constantes das relações e características abaixo transcritas: a) Equipamento hidráulico e elétrico da Usina e Subestação. 1 – 1 turbina tipo Francis espiral, com eixo horizontal e regulação externa automática, tamanho 4.5 B, de fabricação da firma B, Maier Maschinenfabrik, Brackwede, Alemanha, calculada e construída para as seguintes características”.

ASSISTA AO VÍDEO DE NOSSA VISITA AO LOCAL:

Propagandas da turbinas Stoltz – Biblioteca Nacional

Vale também lembrar que esse tipo de conjunto gerador, com apenas uma turbina, era comumente usado em fazendas e empresas , as cidades que recorreram a esse mesmo maquinário utilizaram com duas ou mais turbinas, e isso corrobora com o argumento de insuficiência de geração da pequena usina cratense.

Após a inauguração da distribuição da CHESF no Cariri, em 28 de Dezembro de 1961, a usina da nascente continuou funcionando durante alguns anos, fornecendo energia para alguns bairros mais próximos, até ser desativada definitivamente. OUTROS USOS. Logo após a inauguração da usina, o local também passou a ser ponto de diversão na cidade, de dia para as famílias que iriam desfrutar das águas do rio que saiam das turbinas, e a noite para os boêmios, pois notória foi a fama dos banhos na nascente, e nas crônicas e memórias cratenses registra-se inclusive as aventuras do famosíssimo Nelson Gonçalves no balneário, acompanhado das moças de Glorinha.

SITUAÇÃO ATUAL: O prédio hoje encontra-se em estado de ruínas completa, como podem ver no vídeo(http://bit.ly/2yBAYjU), e apesar das muitas promessas feitas até hoje, nada foi feito pelo entorno e nem pela estrutura, que tem suas galerias em vias de desabamento, como já o fez o telhado, suas portas e janelas foram retiradas, seu maquinário furtado em grande parte, e sua torre de distribuição, assim como o restante do local, não passa segurança estrutural para ninguém.

Desde os primeiros dias do nosso projeto que militamos em prol de sua conservação e estimulando o sentimento de pertencimento da população caririense como um todo, continuamos no coro uniforme: “SALVEM A HIDRELÉTRICA DO CRATO”.

Confira mais imagens na galeria abaixo:

 

Fotos de Roberto Júnior e Thai Feitosa

Fontes: – Revista Itaytera n°28

– Revista Hyhyté n°8

– Cidade do Crato – 1953- Irineu Pinheiro e J. de Figueiredo Filho

– Crato – Evolução Urbana e Arquitetura, 1740-1960 – Waldemar Arraes.

– Rotary Club(Blog)

– Depoimento de Diogenaldo Dourado.

 

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Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.