As primeiras perfumarias do Brasil foram fundadas por volta de 1850. A industrialização no nosso país ocorreu de forma lenta e atravancada, mas temos e tivemos produtos que marcaram a nossa história de forma indelével, um desses certamente é o sabonete Phebo. Usar os produtos da Phebo é mais que um ato cotidiano, é também contemplativo, cada sabonete é único, por conta da sua fabricação quase artesanal, e suas essências são tão singulares, que tornam o simples ato de tomar banho uma experiência marcante.

A HISTÓRIA

Fabricado em Belém do Pará, desde 1930 o Phebo é um referencial em longevidade e qualidade. No apogeu do desenvolvimento da indústria de transformação no Brasil, mais precisamente em 1924, a família Santiago, portugueses provenientes da cidade de Macinhata do Vouga , fundaram na capital paraense a A.L Silva LTDA, uma empresa que viria diversificar os negócios da família, que já era proprietária da Fábrica de Fumos Minerva LTDA. A A.L ficava localizada na Rua 28 de Setembro, N° 194, e tinha como foco principal a produção de chapéus, que a época já estavam caindo em desuso, o que levou os sócios a adentrar no ramo da perfumaria, tendo como primeiro produto a loção Estrela.

Durante a década de 1930, a A. L. Silva recebeu como pagamento de uma dívida a Perfumaria Lusitana. A partir da incorporação dessa perfumaria, a empresa passa a dedicar-se a produção de perfumaria, principalmente sabonetes. Na época, a maior concorrência era dos sabonetes ingleses que eram importados pelos comerciantes de Belém.

Fachada da fábrica da Phebo, em Belém do Pará – 1950’s.

A empresa fabricava uma variedade de produtos ligados a limpeza e a higiene pessoal, entre eles o sabonete damasco, sabonete londrino, sabonete favorito, dentifrícia (pasta dental), água dentifrícia para melhorar o hálito bucal, assim como loções para os cabelos. Baseado no sabonete inglês “Pears Soap”, a família Santiago lançou “London Otto Rosa”, cuja fragrância marcante até hoje divide opiniões. O Pau-Rosa seria sua matéria prima principal, e mais tarde, o “London Otto Rosa” passou a se chamar “Londres Odor de Rosas”. No entanto, quando se tentou registrar o produto, já havia outra marca registrada com esse nome no mercado, daí o senhor Antônio Santiago sugeriu o nome Phebo, em analogia ao deus do Sol na mitologia grega. Com este nome o sabonete “Phebo Odor de Rosas” se popularizou e se tornou o primeiro produto de extremo sucesso produzido pela A. L. Silva Cia Ltda .

Embalagem do London Otto Rosa, sabonete que deu origem ao Phebo Odor de Rosas.

Nos primeiros anos, o sabonete Phebo era produzido utilizando um tambor de 100 litros. A produção era feita de maneira artesanal, os Santiago fabricavam o sabonete em casa, em um fogão a lenha. Naquele tempo, o sabonete demorava cerca de seis meses para ficar pronto. O sistema de secagem exigia muito tempo, era necessário um longo período na estufa para ficar totalmente seco, caso contrário secava-se por fora, mas o miolo do sabonete ficava mole .

O sabonete era dirigido a uma classe mais alta, sendo mais caro que os sabonetes populares. Naquela época. se via o produto importado como algo melhor do que o nacional. Como as importações do sabonete inglês ficaram mais restritas, abriu-se o caminho para a consagração do sabonete Phebo no mercado local e nacional. A elite local adotou o sabonete Phebo como substituto do sabonete inglês “Pears Soap”.

A grande dificuldade da empresa, no início, foi com a logística, pois havia muita dificuldade para enviar seus produtos para os grandes centros consumidores que ficavam no Sul do país. Muitos produtos eram enviados em consignação, ocorrendo o risco de serem devolvidos. “O primeiro grande pedido, 6 dúzias de sabonetes Phebo, foi feito pela Farmácia J. G. de Araújo de Manaus em 1932. Uno ano depois o Mappin Stores de São Paulo comprava 25 dúzias e se tornava o principal cliente”. Na época a via de transportes mais utilizada era a marítima. A Perfumaria Phebo só existiria juridicamente em 1936, antes a A.L usava somente como nome fantasia. Em 1937, outro grande passo foi dado com a aquisição das Perfumarias Salim Salles, que possuía relevante estrutura como oficinas para estamparia em metais, fabricação de latas e obras em folha de flandres, tipografia, encadernação e caixas de papelão, além das aperfeiçoadas oficinas de produção da saboaria, perfumes e cosméticos diversos. A aquisição da Salim Salles mostra uma marca muito forte da Phebo, que é justamente a independência de fornecedores, principalmente pela sua localização geográfica, sendo sempre bastante autossuficiente. Por volta de 1950, passadas as dificuldades da Segunda Guerra Mundial, a Phebo criou outro produto que se tornaria um referencial da empresa, que foi a “Seiva de Alfazema da Phebo”. O senhor Mário Santiago viajou a França em busca de essências para compor o produto e chegou a uma fragrância leve e suave do produto. No início a seiva de alfazema era comercializada em garrafas de meio litro. Nessa época a empresa tinha também uma linha de produtos chamada “madeira da Amazônia” que fez muito sucesso.

Em 1961, a Phebo já era uma marca bastante conhecida, e para ganhar competitividade, inaugurou uma filial em São Paulo. A excelente administração de Mário Santiago conferiu a empresa posições importantes no mercado brasileiro, tendo sempre o Phebo Odor de Rosas como principal produto, responsável por vender sozinho, quase 6 milhões de unidades em 1966. Em 1971 é iniciada a construção da fábrica de Feira de Santana, na Bahia, e em 1980 a empresa conquista um dos maiores prêmios da propaganda mundial, o prêmio “Leão de Ouro” de Cannes, na França. O comercial da “Seiva de Alfazema” produzido por Vander Cairo Levi rendeu este título a Perfumarias Phebo S/A. A propaganda tinha a intenção de atingir o público mais jovem e nela aparecia uma mulher usando Seiva de Alfazema e uma menina tentando imitar a mãe. Os ciclos de administração familiar foram desgastando a empresa, que já havia vencido até a crise do petróleo na década de 1970, tendo sido considerada em 1976, a maior perfumaria do Brasil, mas em 1988 a Phebo foi vendida para a PROCTER & GAMBLE, tendo suas plantas de fabricação sido vendidas para terceiros, assim como a marca. Somente em 2004, a Casa Granado, que já era dona da fábrica de Belém, adquiriu a marca diretamente da Sara Lee DE/ Household & Bodycare do Brasil Ltda, e é até os dias atuais a responsável por manter a Phebo no mercado.

Este artigo conta com informações e iconografia da dissertação ” INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: a trajetória da perfumarias Phebo em Belém” de Marcílio Alves Chiacchio.

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.