Em 1909, o então presidente da câmara municipal de Jardim, o Cel. Napoleão Franco da Cruz Neves, escolheu o Sítio Belo Horizonte para erguer sua nova morada, um imponente chalé, com quatro janelões e porta central que compõem o frontão, este que dá em uma vigorosa calçada, continuação dos alicerces avantajados, construídos para nivelar o terreno está o imóvel.

Além de descender de uma linhagem de latifundiários, o Cel. Napoleão tinha investimentos em outros municípios, como na Serrinha de Salgueiro, atual Serrita, onde a Fazenda Preá era fonte de lucros. A Preá foi palco da histórica troca de comando do bando de Sinhô Pereira, que a partir daquele momento passava a ser comandado por Lampião.

O casal Napoleão Franco da Cruz Neves (em cujas terras Lampião assume em 1922 a chefia do bando) e Donana Neves do Jardim (Ana Pereira Neves, irmã de Né da Carnaúba). Ao lado dela se terno escuro um dos vários Pereiras que se homiziaram em suas terras (segundo Dr. Napoleão estava se recuperando de ferimentos sofridos nas pelejas do Pajeú). Atrás dele, Joaquim Pereira Neves, pai do Dr. Napoleão Tavares Neves. A foto é de 1920.
Acervo : Leandro Cardoso Fernandes (Cariri Cangaço)

O sertão para o gado, e o brejo para as canas. Em 1909, Jardim possuía 13 máquinas de descaroçar algodão, 20 alambiques e 76 engenhos de açúcar e rapadura. As condições hídricas e econômicas certamente pesaram na escolha da localização da fazenda do coronel, que também era delegado de polícia do lugar.

Em contraste com outros imóveis já retratados por mim, o casarão tem certa simplicidade arquitetônica, entretanto, é sem dúvidas um dos maiores depoentes da importância dada a localização dos imóveis em pontos altos. Contra a chapada, e defronte para um vale, o casarão da Belo Horizonte recebe o ar fresco dos baixios, o que era deveras importante no conforto ambiental, mas também essencial na proteção da propriedade, pois permitia a ampla visualização do vasto terreno, fator importante na defesa da propriedade contra invasores. Esses elementos eram de tamanho significado, que não são raros os casos em que os mestres de obras tiveram de usar seus conhecimentos para erigir muralhas e aterros fortes o suficiente para resistir a casarões de tamanho porte.

Nascido em 17 de dezembro de 1857, o Cel. Napoleão adormeceu o sono eterno em 1923. Atualmente o imóvel segue na família, em minha visita fui recepcionado por Teodomiro Neves, que além de permitir as imagens, relatou-me que as tão grossas e memoráveis paredes, abrigaram em seus primeiros suspiros, o dedicado médico e pesquisador, Napoleão Tavares Neves, que há décadas vem contribuindo com trabalhos de História Política, principalmente no que tange ao coronelismo caririense.

ABAIXO O LEITOR PODE CONFERIR FOTOS E VÍDEO DO IMÓVEL:

P.S. Agradecimento especial a Hérlon Fernandes, Bruno Yacub, Luiz Lemos, Márcio Silva, Adriano Carvalho, João Paulo, e todos os amigos e amigas que fizemos em Jardim (CE).

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.