Em memória de Aloysio

Há alguns anos escutei essa história, e nesse interim fiquei a analisar o melhor meio de trazê-la ao público. Inicialmente, pensei em trazer detalhes minuciosos relativos aos personagens e locais, mas agora declino desta opção, pois penso que a síntese perfeita esteja no sumo do relato a seguir, e os detalhes privados, deixo-os privados.

Pois bem. Conta a história que em Crato, durante os primeiros anos do Séc. XX, um médico e político de ilustrada família de Lavras da Mangabeira estabeleceu residência. Ali viveu poucos anos, pois uma tragédia familiar abalou seus dias.

É sabido que a presença de uma criança alegra o viver, trazendo luz ao cotidiano atribulado da vida adulta. O casal aqui retratado recebeu esta dádiva em 1907, e no Vale do Cariri aproveitou-a até 1911. Neste fatídico ano, a pobre criança, o pequeno Aloysio, encantou-se.

Destruído pela dor, o pai providenciou ao filho uma imponente sepultura no Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, seu lar derradeiro, que foi encimada por um anjo de mármore, companheiro de seus despojos materiais. Décadas passaram, e o homem não tornou a viver no Crato, falecendo em Fortaleza em 1952.

Mais adiante, quando a memória coletiva da cidade já havia sepultado as lembranças do infausto ocorrido, um comerciante com negócios em São Paulo, mas de filiações cratenses, visitou a cidade. O sujeito tomou ciência da existência de um túmulo com grande valor artístico, e sem perca de tempo o profanou, levando à capital paulista o anjo em mármore branco, onde pretendia negociá-lo com colecionadores.

Poucos dias após incluir em seu portfólio a belíssima escultura, o santeiro perdeu toda a paz que lhe restava. Seus negócios cessaram, os clientes sumiram, e até em sua vida pessoal os impactos foram sentidos, com desavenças familiares, visões e manifestações em casa. Com muito custo, o negociante conseguiu repassar a obra, mas até mesmo os seus clientes sentiram a aura que a envolvia, e cada um a seu modo, receberam os sinais de outras paragens para que a transação fosse desfeita.  Ainda descrente, o comerciante recebeu em sonho uma visita que lhe tirou as dúvidas sobre os descaminhos que passaram a permear sua vida.

A orientações dadas no sonho eram claras, e sem mais demora, o homem providenciou o retorno da obra de arte para terras cratenses. O Anjo de Aloysio pôde novamente ser o guardião dos restos mortais do infante, e assim cessaram as manifestações sobrenaturais. Os pedidos do falecido haviam sido atendidos, e novamente ele repousou em paz, e desejamos que assim permaneça.

 

Post Scriptum – A Emerson Monteiro, amigo querido, escritor de pena talentosa, e quem primeiro me contou esta história, dedico também este texto. Obrigado por me repassar esse relato, a você encaminhado por seu pai, e agora aqui continuado.

ASSISTA ABAIXO A NOSSA VISITA AO TÚMULO DE ALOYSIO:

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Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.