Nascido no começo de 1997, vivenciei ainda na minha precoce consciência infantil, lembrança das tertúlias em casa de minha avó, onde o toca discos 3 em 1, com os discos e fitas das bandas do momento, animavam meus pais, tios e amigos. Uma trilha sonora recheada de Mastruz Com Leite, Magníficos, Limão Com Mel e outras bandas e artistas, onde obviamente não poderia faltar os afamados Beto Barbosa, Grupo Kaoma, e outros representantes do ritmo envolvente e frenético da Lambada.

Com forte influência do Merengue, parece ponto pacifico que o ritmo nasceu em Belém do Pará, em fins da década de 1980, graças as rádios das Antilhas que irradiavam o merengue no interior do Pará, e ao selo Mocambo, que trazia os discos na década de 1960, sendo o radialista Haroldo Caraciolo o responsável por forjar o termo “lambada”. Graças ao ‘Sonoro”, aqui conhecido por difusora, um sistema de alto falantes espalhados pela cidade, o merengue se tornou conhecido pela população em massa e rapidamente foi apropriado e modificado, dando origem ao ritmo que conhecemos, e que se consagrou mundialmente a partir de canções como “Chorando Se Foi”, do Kaoma, e “Preta”, do Beto Barbosa.

É inegável a sensualidade do ritmo, e estando inserido no contexto de transformações culturais que o país vivia na década de 1980, configurou a combinação perfeita para as censuras das camadas mais conservadoras de nossa sociedade. Ainda criança tive acesso as primeiras versões da lenda do “Cão da Lambada”, que apesar de suas diferenças, seguem em sua maioria um roteiro único, que trata da história de uma moça, que alvo das censuras do pais, que não queriam deixa-la ir aos bailes, arranjou um meio de escapulir sem deixar desconfianças.

Eram locais de muita frequência de quem apreciava a noite, especialmente em Juazeiro do Norte, a Churrascaria do Jackson, no Pio XII, e mais adiante, ainda próximo a Avenida Carlos Cruz, existia o Zé Virgilio, onde em plena via pública caixas de som eram montadas e o povo se esbaldava. Nas várias versões que escutei, o tal tinhoso apareceu em todos esses lugares, e mais alguns, como a boate Talismã e em festas de particulares. Mas voltando a história; conta-se que a moça, em consórcio com um grupo de amigos, tratou escolher um dos locais mais badalados, e afirmou que era a oportunidade de expurgar a vontade acumulada de dançar, e que até com o capeta dançaria a mal falada Lambada.

Chegando no local, trataram todos de escolher uma mesa e bater papo enquanto as coisas não se animavam mais, porém, já na pista existia um sujeito que dançava como poucos, e que rapidamente se interessou pela moça, chamando-a para dançar, o que ela prontamente aceitou. Conta-se que o desempenho de ambos era algo invejável, e ela animada com o par, emendou uma playlist imensa, até que em um momento de calmaria, fitou o rosto do companheiro e se deparou com feições humanas, mas com toques macabros que a deixaram horrorizada, fazendo-a causar grande alvoroço. Várias outras versões noticiam até a manifestação em plena Praça Padre Cícero, mas o que é mais perceptível, é que esta tornou-se uma assombração que não pôs medo em quase ninguém, porque os bailes continuaram, e a lambada foi dando lugar ao forró eletrônico, e o tal “Cão da Lambada” entrou para história como um boato espalhado pelos pais que desejavam ver suas filhas e filhos longes de todo aquele movimento. Encontrei história similares em várias partes do pais, sendo mais comuns no Nordeste, e fiquei muito impressionado com o percurso que ela cumpriu na memória da “Geração Anos 80”.

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Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.