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Edificada a partir de meados da década de 1860, por intervenção do Padre Ibiapina, a capela de Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Coité, em Mauriti, é uma verdadeira joia da arquitetura sertaneja. Em excelente estado de conservação, a capela tem mais porte de igreja, dadas suas dimensões avantajadas. As calçadas ainda conservam o piso em pedra original, em blocos grandes e toscos, diferentes do refinado ladrilho hidráulico aplicado no interior do templo.

As grossas colunas, com seus arcos, são sucedidas por antigas aberturas, muito curiosas, semelhantes a janelas, onde há décadas parte do coral se alojava. Levando em conta o mezanino, ainda em excelente estado, e as aberturas em ambas as laterais, posso afirmar que a acústica na igreja deveria ser excepcional, em tempos em que não existia eletricidade, quiçá caixas amplificadas, esse elemento era essencial.

Reduto de devoção do povo do Coité e adjacências há mais de um século, a capela conserva na base de sua torre esquerda, trechos do piso original, em tijolos de adobe. Guarda também o sino original, os missais e paramentos antigos do icônico Padre Lacerda, e do Padre Maranhão, assim como também a antiga matraca utilizada nas cerimônias, e a joia da coroa: um mural, bastante rudimentar, representando uma das estações do sofrimento de Jesus Cristo, arte antiga, que por si só denuncia sua idade.

A vista exterior do templo é invejável. Além da beleza arquitetônica, destaco também e rigidez estrutural do imóvel. Em semelhante estado se encontram as dependências internas da construção, que conservam em seu interior mobília bastante antigas, talvez contemporâneas ao confessionário que fica logo na entrada, e que ao longo dos anos serviu de testemunha a muitos segredos.

Concluo dizendo ao povo de Mauriti, não somente de Coité, que seu município possui um bem de riqueza arquitetônica ímpar, que afrontará os séculos com a devida manutenção e respeito as suas peculiaridades construtivas (por favor, não usem tinta látex em nenhuma reforma), e que é testemunha de um dos mais memoráveis combates do período do cangaço no Cariri, que teve como protagonista o próprio vigário do lugar, que apesar de já falecido, deixou a imagem de São Sebastião no altar, utilizada por ele na missa de ação de graças após o tiroteio, como prova da resistência ao ataque do temido Sinhô Pereira.

ARQUIVO FOTOGRÁFICO 

A imagem de São Sebastião utilizada pelo Padre Lacerda na celebração após o combate.

 

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.