Em 1934, Juazeiro do Norte viveu um dos momentos mais dramáticos de sua história, a morte do Padre Cícero Romão Batista, religioso e político de expressão nacional, responsável por fundar a cidade. Em 29 de Setembro de 1934, o Monsenhor Pedro Esmeraldo, religioso estimado na cidade, estava a proferir um sermão contra supostas ameaças comunistas, e no teor de seu discurso haviam recomendações e súplicas no sentido de que houvesse união entre os fiéis, para que protegessem a santa igreja contra tal infortúnio.
Ainda no meio do discurso, o religioso sofre um mal súbito no altar, e termina falecendo em 01 de Outubro de 1934. Foi a combinação perfeita para causar agitação entre os fundamentalistas religiosos de Juazeiro do Norte, que viram naquilo algo profético, e trataram de se organizar para proteger a Matriz de Nossa Senhora das Dores. Os “cerca igreja” ou “caceteiros”, eram figuras conhecidas no Cariri, e frequentes na crônica histórica da região. Muitos utilizavam cacetes de jucá, que após longo processo de enrijecimento, se tornavam armas poderosas. Essas pessoas adentraram a matriz, e ali se estabeleceram durante mais de dois meses.
As tentativas de negociação para desocupação da igreja eram inférteis. Religiosos e autoridades eram rechaçados com violência, e a população do entorno fazia reclamações constantes contra a presença daquelas pessoas dentro do templo, e atendendo a demanda urgente da situação, José Geraldo da Cruz, a época prefeito de Juazeiro do Norte, solicita intervenção policial no local. O primeiro contato dos militares foi pacifico, uma vez que a causa era melindrosa, mas a reação dos caceteiros, armados também com foices e enxadas, foi das piores.
Atacaram a um dos civis que integrava a comitiva que havia ido até o local tentar a desocupação e dispersão, e assim as autoridades encerram as negociações. O Secretário de Policia ordenou que todas as medidas necessárias fossem tomadas contra o grupo, e assim, uma voltante comandada pelo Sargento Mena Barreto, e mais 14 militares, adentrou a matriz com o fim de solucionar de vez o caso. Diante dos militares, o caceteiros não se intimidaram, e partiram para o ataque, o comandante da tropa ordenou que os fuzis fossem disparados para o alto, o que arrefeceu momentaneamente os ânimos. Mas os “cerca-igreja”, que ao verificar a inexistência de feridos acreditaram em mais uma intervenção divina, decidiram atacar novamente a força policial, que desta vez revidou com uma vigorosa descarga de fuzil, em legítima defesa.
Os caceteiros correram, alguns feridos, outros no último suspiro, vislumbrando a morte. O número de mortos é impreciso, estima-se que entre 6 e 7 pessoas morreram, e vários ficaram feridos, foi um verdadeiro banho de sangue dentro da igreja matriz, que resultou na necessidade de um caminhão para transportar os corpos, que foram enterrados em uma vala comum no cemitério do Socorro.
O episódio foi narrado em algumas obras locais de cunho histórico, sendo uma das mais recentes, o livro de Geraldo Menezes Barbosa, onde ele comete o equívoco de citar que o evento correu em 1935. Diante do compromisso e serviços prestados pelo supracitado, temos certeza de que foi algo sem intenção, truques da memória.
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