A rua Francisco Basílio é lar bucólico de alguns itens interessantes da arquitetura de Missão Velha, um trecho sem muito movimento, mas com relevantes contribuições para o estudo da ocupação territorial daquele município, um destes imóveis, sem dúvidas, é a casa de Isaías Arruda, chefe político de carreira e existência meteóricas.

O estilo eclético presente no imóvel é uma prova do desejo de modernização urbanística que Isaías trouxe para Missão Velha, vide o paço municipal, erguido em sua breve administração, e que é uma das joias da coroa daquela urbe. Típica casa residencial da Belle Époque das metrópoles, o imóvel possui elementos que remetiam e remetem o poder econômico de quem o mandou construir. O pé direito alto, acompanhado também em dimensão pelos janelões em e portas em quantidade expressiva, nos falam sobre os meios de conforto ambiental levados em conta no período. A platibanda tem frisos, floreios e um frontão de ímpar beleza, e logo abaixo dela um conjunto de cornijas e arquitrave excepcional.

O restante do terreno está ocupado por um jardim, encerrado em uma mureta gradeada de igual apuro arquitetônico, com balaústres e colunas de sólido capitel. A casa de Coronel Isaias certamente poderia ser transportada para os grandes centros históricos das capitais onde o movimento da Belle Époque teve mais força, e certamente lá seria inserida sem qualquer dívida junto as obras dos grandes arquitetos e mestres de obra do local. O imóvel foi edificado por volta de 1927, e mesmo não tendo subsídio suficiente para dar enfoque a assinatura de quem o projetou e construiu, acredito que Arruda tenha seguido a tônica comum a época, e contratado profissionais de Fortaleza ou Recife, sendo mais provável de Fortaleza, onde mantinha maiores ligações. Mas é importante destacar que apesar de ter se inspirado em um estilo arquitetônico mais moderno e requintado, o mandão não pode deixar de lembrar das particularidades que a residência de uma chefe político em um local como o Cariri deveria ter, e assim sendo, este imóvel tem, assim como possuem os de outros contemporâneos seus, elementos de defesa e reserva contra ataques e tramoias, vide o porão utilizado como abrigo de cabras e sala de armas, uma espécie de “bunker”, ainda hoje existente na casa, e que facilitava o trânsito de pessoas e armamentos, quer seja em caso de fuga, quer seja em caso de reforço.

Após o assassinato de Isaias Arruda, ocorrido em 1928, a viúva vendeu o imóvel a José Gonçalves de Lucena, por 14 contos de réis, uma bagatela que beira meio milhão de reais em nossos dias. Lá, segundo Bosco André, Zé Gonçalves viveu até falecer em 2002, salvo um hiato após um entrevero que envolveu o temido, Chico Romão, chefe de Serrita. Estando na posse dos herdeiros deste, o futuro do imóvel, que atualmente se encontra desabitado, mas ainda em bom estado de conservação e estrutura, é incerto, mas dado os cuidados permanentes que vem sendo empregados, o palacete seguirá ainda por muitos anos sendo objeto de admiração.

A biografia de Isaias Arruda é complexa e vasta, certamente ele ganhará um artigo biográfico em nosso site, enquanto isso, os interessados em ler mais sobre ele, nós deixamos como recomendação a biografia escrita por João Tavares Calixto Júnior, uma obra extremamente importante. O leitor pode adquirir por meio do nosso WhatsApp: (88)988676328.

Texto e fotografias de Roberto Júnior.

VEJA MAIS FOTOS E DETALHES DO IMÓVEL ABAIXO:

Foco na platibanda e nos arcos das janelas da fachada principal.
Colunas e pórtico de entrada.
Detalhe da platibanda da área interna, no pátio de entrada.
Mureta com balaústres, o conjunto é de notável beleza.

Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.