FONTE: Jornal do Brasil

As 19h20, de 31 de maio de 1997, teve fim a agonia de Frei Damião de Bozzano, o capuchinho que percorreu o Nordeste, arrebatando multidões e sendo apontado até mesmo como a reencarnação do Padre Cícero. Há décadas acometido de problemas ósseos e musculares, o frade também acumulou a suas outras enfermidades, graves problemas pulmonares, que o levaram a internações frequentes, sendo acompanhado desde 1990, pelo pneumologista, Blancard Torres.

Com insuficiência respiratória, o franciscano deixou o Convento de São Félix de Cantalice, onde residia, seguindo para o Hospital Português, onde foi internado no dia 06 de maio de 1997, e diante da gravidade do caso, encaminhado para a UTI. Após dez dias de internação na unidade intensiva, o boletim médico apontava grave risco de infecção generalizada.

Apesar da comoção popular e das muitas orações feitas no pátio do hospital, a morte cerebral de Frei Damião foi anunciada as 11h de 28 de maio. Segundo os médicos, desde as 05h55, as funções vitais do frade eram controladas somente pelos aparelhos da UTI. O Frei Fernando Rossi foi o responsável pela extrema unção do religioso, enquanto isso, Dom José Cardoso Sobrino, arcebispo de Olinda e Recife, anunciou que o corpo seria velado por três dias na Igreja da Penha, e sepultado no convento de São Félix. Naquele mesmo dia, Miguel Arraes, então governador do Pernambuco, visitou a unidade de tratamento, onde ficou por vinte minutos, anunciando que iria decretar luto oficial.

Após mais de vinte dias internado, com o corpo acometido por problemas intestinais, um derrame e pneumonia, o frade de 98 anos sofreu nova para cardíaca, dessa vez irreversível. Segundo a PM, no primeiro dia de velório do religioso, cerca de 40 mil pessoas compareceram a Igreja da Penha, formando uma fila de cerca de três quilômetros. O corpo chegou ao templo por volta de meia noite, e após missa reservada de corpo presente, a câmara ardente pôde ser acessada pelo público por volta das 2h10 de 01 de junho.

Vestido com o hábito franciscano, e com um terço entre as mãos, Frei Damião estava entre quatro policiais, que orientavam os visitantes a não tocarem no corpo, um esforço inútil, haja vista que muitas pessoas tiveram êxito. Dentre os milhares de visitantes, algumas personalidades, como Dom Helder Câmara e o ex-presidente, Fernando Collor, que veio de Miami para participar da cerimônia, atitude julgada como oportunista pela imprensa.

Fernando Collor junto ao caixão.

No dia 04 de junho, o caixão foi fechado e embarcado no caminhão do Corpo de Bombeiros, para seguir cortejo até o estádio do Arruda, onde houve a missa de corpo presente, aglomerando mais de cem mil pessoas durante o trajeto, tendo a PM mobilizado mais de dois mil homens para organizar o trajeto.

No final da manhã, o caixão finalmente chegou ao estádio, onde uma missa de corpo presente de mais de 3h foi celebrada. Por volta das 15h o helicóptero decolou do campo levando os restos, fazendo breve parada no Aeroclube de Pernambuco, e seguindo para o convento, onde o frade foi sepultado na capela de Nossa Senhora das Graças as 16h20. Ao decolar, um espetáculo foi presenciado pelo público. Enquanto Frei Damião sobrevoava o Recife, 66 pombos brancos foram soltos, um para cada ano dedicado as missões religiosas.

O caixão durante a missa no estádio.

Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.