Quando João Zenildo Gonçalves comprou, em 1973, um Aero Willys 1968, talvez ele não tivesse dimensão de como o carro e a história por trás dele se tornariam relevantes na região do Cariri. Inicialmente usado como veículo do dia a dia, rapidamente o Aero caiu nos gostos de João, que decidiu não mais vende-lo, e sim conservar com esmero, o reservando para ocasiões especiais e finais de semana, e adquirindo outros veículos para a lida diária.

João Zenildo em um de seus últimos registros junto do carro, em 2015

Zenildo foi taxista, e depois um dos mecânicos mais conhecidos da cidade do Crato, existindo ainda hoje a oficina por ele fundada, e certamente suas habilidades contribuíram bastante para auxiliar na reconstrução do carro. Não bastasse o amor pelo automóvel, que preenchia espaço no coração de quase todos os membros da família, e tornava a relação deles digna de crônicas, a trajetória desse Aero Willys ainda é permeada de casos de superação.

TRADIÇÃO FAMILIAR | Mano Gonçalves hoje mantém a oficina e o Aero Willys que um dia foram do pai, João Zenildo.

Em 1982, um acidente quase pôs fim a história do carro. O automóvel ficou parcialmente destruído, de tal modo que em outra realidade o condenaria a perca total e sucata, mas ele já era mais que um objeto ou bem de consumo, e assim sendo, foi rigorosamente restaurado durante 5 anos, voltando a ativa no final dos anos 1980, e permanecendo até os dias atuais, encantando as ruas do Cariri, e contando um pouco da nossa história, um vez que a Willys Overland teve importante papel na cena automobilística regional, inicialmente com o Jeep, e posteriormente com o Aero, que era preferência absoluta dos taxistas da região. Também é importante destacar a presença a Willys Rural e Willys Pick-up, que foram muito usadas como transporte alternativo aos ônibus.

O interior do Aero Willys é um dos itens que mais recebe atenção do proprietário

Lançada em março de 1960, a primeira geração do Aero Willys, o famoso “Bolinha”, que durou pouco tempo, sendo substituído pelo Aero Willys 2600 em 1962, o primeiro automóvel totalmente concebido no Brasil, ficando em linha até 1971. Durante esse período, o Aero passou por algumas modificações mecânicas e estéticas, em sua maioria discretas, e ganhou duas versões, o Itamarty e o Itamaraty Executivo.

Primeira geração do Aero Willys

Atualmente o veículo compõe o acervo de Mano Gonçalves, membro do Clube do Automóvel do Cariri – Siqueira Campos, instituição na qual, o seu pai,  João Zenildo, foi sócio fundador e um dos membros mais ativos e entusiasmados. Zenildo faleceu em 2015, deixando viúva, filhos, e amigos enlutados, mas também um legado importante ao antigomobilismo regional.

As principais mudanças exteriores do Aero Willys sempre estiveram na traseira do veículo, que teve alterada o formato e as lanternas mais de uma vez.

ASSISTA ABAIXO NOSSA ENTREVISTA COM MANO GONÇALVES, PROPRIETÁRIO DO AERO WILLYS:

 

AGRADECIMENTOS ESPECIAS: Mano Gonçalves, Itallo Rodrigues e Juan Landim.

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Roberto Junior
Acadêmico de História na Universidade Regional do Cariri (URCA), foi secretário geral do Instituto Cultural do Cariri (ICC) e conselheiro de cultura do Crato. Fundou o Cariri das Antigas em 2014, e desenvolve pesquisas na área de História Política e Social. Atuou como bolsista da FUNCAP no projeto "Biopoder, Saúde e Saber médico: O Hospital Manuel de Abreu e as práticas de cura e controle da tuberculose na Região do Cariri nos anos de 1970”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco Egberto Melo. É diretor administrativo do Clube do Automóvel do Cariri - Siqueira Campos, sendo o historiador responsável pela edição do periódico do clube, fruto de suas pesquisas acerca da história do automóvel no Brasil, com recorte entre as décadas de 1890 e 1990. Tem como pesquisa de trabalho de conclusão de curso, a História e Desenvolvimento da Aviação no Cariri, com enfoque principal na atuação do Correio Aéreo Militar.